sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

É frevo, meu bem!

crédito: do site Carnaval de Pernambuco


Meu incômodo com a cobertura carnavalesca parece arrefecer com os anos, de cansaço, mas confesso que ainda me irrita a insistência de alguns veículos em concentrar o tema em trios elétricos de Salvador e escolas de samba no Rio.

Esse comentário poderia ser um ranço bairrista, mas nem é. Abandonei o bairrismo há pelo menos uma década e, ao contrário de parte dos meus conterrâneos, gosto muitíssimo de de SSA e o Rio, claro, lindo continua.

Mas creio que não é pedir demais que o olhar jornalístico seja levado na direção do vento nordeste, para que se veja como o chão ferve na pisada da "mistura colorida da massa", conforme eternizado por Alceu Valença.

E olha que não me refiro a uma forma politicamente correta de dar voz aos 'marginalizados' do 'Norte' (que nem é o nome correto da Região, mas parece que a burra convenção de colocar todos numa só saco amorfo virou praga). Não, não é isso. A questão é jornalística mesmo, camaradas.

Afinal, não é mais do que legítimo conferir o que leva milhões de almas a "sentir a embriaguez do frevo" nas ruas, sem pagar um tostão e não passar pela situação humilhante de se espremer - dentro e fora - de cordões de isolamento?


Querem fatos? Pois os terão:
  1. No Carnaval de Pernambuco, são 10 as cidades-pólo oficiais de folia (em todo o Estado, na Zona da Mata, Agreste e Sertão)

  2. Só no Recife, o folião dispõe de nove pólos centrais de festa, distribuídos entre todos os gostos e ritmos. A saber: Recife Multicultural (no Marco Zero da cidade), das Fantasias & Infantil (as famílias e crianças vão mesmo), Mangue (herança do movimento mangue-beat), Todos os Frevos (não precisa nem dizer), Agremiações (mais de 200 agremiações, entre bois, ursos, troças, clubes de frevo e bonecos, blocos de pau e corda, tribos de índios e escolas de samba), Todos os Ritmos, Afro, Tradições e ainda oito células descentralizadas em bairros e comunidades da capital.

  3. Em Olinda, ah... Que dizer de Olinda? Deixo por conta de um blog criado por um grupo de alunas minhas, nesta postagem divertidíssima, explicar um pouco o que se encontra por lá.
Aos que ainda não conhecem, uma breve lista d'algumas das manifestações populares que tomam conta das ruas, becos, vielas e avenidas desse meu torrão natal:


Papangus - Caretas - Bonecos Gigantes - Caboclinhos - Maracatus e mais Blocos, troças, clubes, carros alegóricos, ursos, bois, tribos, escolas de samba e Frevo, meu povo. Muito frevo.

Pra terminar, um aparte pessoal. Em Vitória de Santo Antão, a 50 quilômetros do Recife, mesmo ante tanta descaracterização e algumas insistências com trios, o Carnaval ainda é magistral. Na rua, na fervura do asfalto, atrás das orquestras, o frevo reina. Ainda bem.

(O título lá e cima se refere a um frevo-canção de Capiba, compositor pernambucano que já se foi para mundos outros. Para ouvir, fazer o passo e pedir bis). Ei-lo:

É frevo, meu bem
(Continental, 1941)

Pernambuco tem uma dança,
Que nenhuma terra tem
Quando a gente entra na dança
Não se lembra de ninguém.
É o maracatu?
Não, mas podia ser.
É o bumba-meu-boi?
Não, mas podia ser.
É dança de roda?
Não, mas podia ser.
Não será o baião?
Quero ver dizer.

É uma dança,
Que vai e que vem.
Que mexe com a gente.
É frevo meu bem!

É dança de roda,
Não, mas podia ser.

2 comentários:

Anônimo disse...

Adri, refeita (ou quase) deste que foi um período muito estranho de Momo, tenho que dizer que achei ótimo o seu post sobre a cobertura do carnaval. E como eu mesma vi de perto como isso se faz (e vc também), acredito que por todos os ângulos, é um trabalho ingrato, inglório. Mas, puxando um pouco do bairrismo e as orelhas dos dirigentes desta terra dos altos coqueiros, por que a propaganda (no sentido amplo, alemão do termo) não se fixa em dizer que este é um carnaval democrático? é só o sujeito vir aqui e sair por aí. Não precisa de comprar fantasia, nem abadá, nem ingresso, nem nada. Este é o traço único, ímpar do nosso carnaval. Não vamos mais ficar tentando usar "argumentos de venda" para nos igualar aos carnavais de BA/RJ e que tais. Por serem únicos, eles se destacam. Vamos ser únicos também! Ou melhor, vamos mostrar que somos mesmo únicos! Bjs

Anônimo disse...

fechei contigo, aragão. concordo em gênero, número e propaganda. falando nisso, adorei o 'sentido amplo, alemão do termo'. tu és uma danada. só não entendi o porque o período de momo foi uma coisa, assim, dalton... muito estranho. que passou?