Dia desses, li uma matéria bem amarrada, super redondinha e bem escrita, com vários depoimentos acerca da proibição de cigarro e congêneres em quaisquer ambientes - aqui e alhures. Um deles, em especial, me deixou encafifada, tal qual diria a Luluzinha.
Um intelectual, contrário à medida, bradava que o ato de fumar estava diretamente ligado a um tempo em que nosotros escrevíamos, pensávamos, amávamos e até viviámos melhor. Isso mesmo, vocês não leram errado.
Para o entrevistado em questão, a fumaça teria esse poder mítico tamanho, capaz de deixar afluir o talento, de fazer aflorar as mais legítimas inspirações artísticas. Algo como uma versão fumê das musas da antiguidade clássica.
Concordando ou não com o argumento, e aí coloco o jornalismo na conversa, comecei a me indagar sobre o papel do repórter em situações como essas.
O autor da matéria em questão colocou, logo em seguida a esse depoimento, uma declaração de Danuza Leão, fumante, mas que se afirmava solidária à causa anti-tabagista. Não sei, mas ainda assim senti falta de algum depoimento que comentasse a declaração do intelectual, talvez um pesquisador ligado à área de comportamento humano para explicar se essa relação prazer do cigarro x inspiração teria algum fundamento, ou então que não passaria de balela das grandes (voto nessa alternativa). Algo que ao menos movimentasse a discussão em torno da declaração tresloucada do cidadão.
Sabem, acho que devo estar ficando velha pr'algumas coisas. Noutros tempos, morreria de rir ao ler as aspas desse cara. Hoje, fico me perguntando o que se passa na cabeça das pessoas para soltarem tamanha asneira quando avistam um gravador, microfone ou bloquinho. Será que é a síndrome do "quero ser eternizado por minhas frases de efeito e estilo cabeçóide"?
(o título deste post é uma referência ao ótimo - e polêmico - livro Imposturas Intelectuais, com o qual já dei sonoras gargalhadas)
Um intelectual, contrário à medida, bradava que o ato de fumar estava diretamente ligado a um tempo em que nosotros escrevíamos, pensávamos, amávamos e até viviámos melhor. Isso mesmo, vocês não leram errado.
Para o entrevistado em questão, a fumaça teria esse poder mítico tamanho, capaz de deixar afluir o talento, de fazer aflorar as mais legítimas inspirações artísticas. Algo como uma versão fumê das musas da antiguidade clássica.
Concordando ou não com o argumento, e aí coloco o jornalismo na conversa, comecei a me indagar sobre o papel do repórter em situações como essas.
O autor da matéria em questão colocou, logo em seguida a esse depoimento, uma declaração de Danuza Leão, fumante, mas que se afirmava solidária à causa anti-tabagista. Não sei, mas ainda assim senti falta de algum depoimento que comentasse a declaração do intelectual, talvez um pesquisador ligado à área de comportamento humano para explicar se essa relação prazer do cigarro x inspiração teria algum fundamento, ou então que não passaria de balela das grandes (voto nessa alternativa). Algo que ao menos movimentasse a discussão em torno da declaração tresloucada do cidadão.
Sabem, acho que devo estar ficando velha pr'algumas coisas. Noutros tempos, morreria de rir ao ler as aspas desse cara. Hoje, fico me perguntando o que se passa na cabeça das pessoas para soltarem tamanha asneira quando avistam um gravador, microfone ou bloquinho. Será que é a síndrome do "quero ser eternizado por minhas frases de efeito e estilo cabeçóide"?
(o título deste post é uma referência ao ótimo - e polêmico - livro Imposturas Intelectuais, com o qual já dei sonoras gargalhadas)
4 comentários:
O que mais me intriga é o seguinte: o cabra resolve largar uma "sacada genial" dessas. Vá lá, ele deve ter seus motivos, sejam quais forem. Mas o repórter anota. E publica. Nem pensa em perguntar um "como assim".
Hoje pela manhã, estive numa entrevista coletiva. Lá pelas tantas, uma colega me pergunta quem foi o sujeito que disse em sua fala que havia x empresas esperando pra investir em y. Eu respondi: "pô, esse dado que ele citou é oficial e público, a Repartição Z é obrigada a botar na internet, ainda ontem saiu no jornal tal". Ela agradeceu, meio sem graça. Foi perguntar pra uma outra colega. Esta lembrou do nome do sujeito. Foram perguntar pra ele. Ele responde: "não sei bem de cabeça, são umas 5 ou 6, mas isso tá no site da Repartição Z". A matéria, depois, sai assim: "De acordo com Fulano de Tal, cinco ou seis empresas aguardam para investir em X." Mais ou menos o mesmo que estarmos caminhando na rua e ela me perguntar: "Disseram que tá chovendo?" e eu responder "passa a mão no cabelo, se tiver molhado é porque tá". Ela vai e pergunta pra outra, que diz que um terceiro disse que estava chovendo. Todo mundo se molhando e ela diz: "pois é, Fulano disse que tá chovendo".
Pois é, Marcelo. Você disse tudo: tá faltando "como assim?" nas entrevistas de muito repórter por aí. É a história da falta de curiosidade, que você comentou uma vez, aliada a uma displicência (quase) generalizada. Que começa no repórter que se recusa a conferir uma palavra no dicionário e vai até os confins da irresponsabilidade.
dGente, concordo que o "como assim?" faz falta e é sua falta é mãe de um monte de problemas. Mas acho que displicência só não é a causa disso. Dentro do repórter (e eu já fui um deles) parece que moram o médico e o mostro: um que age com a arrogância de tudo saber e outro com o medo de passar por idiota ao perguntar o que não sabe. São bem parecidos esses dois seres e juntos deságuam na falta de "como assim?". Diante de um senhor que defende o cerebro defumado como grande produtor de genialidades, o repóter pode até ter pensando "como assim?", mas preferiu agir como se compreendesse e concordasse. Depois acendeu o cigarro, a caminho da redação. Bjs Ana
Ana, o 'médico e o monstro' precisa virar um texto, post, artigo ou coisa parecida. Escreve, que eu publico aqui (não que aqui seja grandes coisas, mas meus leitores são poucos, mas fiéis) :) topa?
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