Por sugestão - e empréstimo - do meu orientador, estou (re)lendo Roberto DaMatta, desta vez sem a obrigação da leitura, o que torna a experiência ainda mais agradável.
Recomecei pelo clássico A Casa e a Rua. Havia esquecido como o antropólogo consegue dizer tanto, e quase tudo (o que não é pouco!) sobre a alma brasileira, numa escrita simples, sem rodeios, macia e, por que não dizer, malemolente.
Na minha humilíssima e igualmente leiga opinião, uma das sacadas mais geniais do pensamento social brasileiro reside na idéia de analisar o País sob a égide da tríade 'casa, rua e outro mundo'.
Numa síntese bem rasteira do pensamento do antropólogo, ele defende magistralmente que não se pode ter uma visão completa do fazer e ser brasileiros se não tivermos em mente que vivemos e convivemos sob essas três instâncias. O que, conseqüentemente, leva a sociedade brasileira a adotar ao menos três comportamentos e três éticas concomitantemente.
Ainda mais genial é a constatação que a sociedade brasileira é relacional, ou seja, as mobilidades só existem mediante as relações de compadrio, de amizade, de conhecimento. Assim, no Brasil, o que vale mais é a pessoa, e não o indivíduo.
E o melhor de tudo é que, ao contrário dos críticos ferrenhos, não há qualquer nesga de ranço ou mesmo asco com o país que analisa. As mais duras constatações, como as presentes ao avaliar um dos nossos traços mais tétricos (para usar uma expressão dele) - o famigerado "sabe como quem você está falando?" -, são postas como leituras do Brasil, nunca como manifestos contrários ao lugar. Posso estar errada, mas lendo seus ensaios, o que parece emanar do autor é um profundo, sincero e declarado amor por esse complicado pedaço de chão.
Impossível não fazer uma associação às avessas com boa parte dos estudos sobre o jornalismo que vejo por aí - dentro e fora da Academia - , os quais demonstram uma intransigência, raiva e recalque (hoje estou hiperbólica, mas nem ligo) pelo objeto estudado.
Mas isso é tema para outro post. Inté!
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