terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Eu tenho medo do Twitter


Nos últimos seis dias, 0 jovial Saskuna dedicou 18 preciosos momentos de sua caminhada neste planeta azul para contar, através de micro-relatos, o que andava aprontado no momento.

Já sei que ele trabalha, tem muito sono (provavelmente porque trabalha) e dores de cabeça. Não deu para inferir mais nada com essas informações, mas com boa vontade até que dá para traçar um perfil, mesmo que fajutíssimo.

Desde que decidi espiar o Twitter , com fins profissionais (é sério, estou fazendo uma matéria sobre isso) e levada, naturalmente, por uma curiosidade besta, confesso que ainda não me encantei com a ferramenta. Mas já que muita gente boa está apostando fichas altas na geringonça, quem sou eu para duvidar...

Há pouco li um artigo ressaltando as possibilidades de uso jornalístico desse misto de rede social, microblogging e (perdoem-me, eu ainda não viciei na coisa) falta do que fazer. O autor se chama Nico Luchsinger e o texto, muito bom, está em inglês.

(enquanto postava, vi no twitter que um camarada quer se matar - tomara que metaforicamente - , o outro está jantando com a mulher e o bebê, alexandre é o novo eliminado do bbb (direto do twitter do G1), o que queria se matar destruiu o laptop (medo!), um cidadão esperou uma hora pelo ônibus e, por fim, que meu amigo (?) Saskuna continua com dores de cabeça, razão pela qual precisa ir embora).

Também me voy. Esperando as opiniões de vocês sobre o tema. E aí, já twittaram hoje?

domingo, 27 de janeiro de 2008

de eutanásia e outras mortes

hamletiana: creditar ou não creditar... that´s the question!


Vez por outra vou retomar um tema que me foi bastante caro à época do meu Mestrado – a influência das assessorias na produção dos jornais –, porque indissociável da questão da 'cordialidade', do jornalismo sem conflito.


A enquete aí ao lado é uma sacudidela que acredito importantíssima no nosso meio: que papel as assessorias de imprensa podem e devem ter.

Sem querer influenciar ninguém, defendo o crédito das informações oriundas de assessorias, para que ao menos fique clara a origem da fonte. Hoje li, na edição gorda de um matutino brasileiro, mais uma errata que colocava a culpa no assessor de imprensa. Engraçado é que, na hora de divulgar, ninguém avisa que aquela informação veio embaladinha pra presente num release, e que o repórter não teve qualquer ingerência no trabalho de apuração ou redação – no máximo, tascou um CTRL+C CTRL+V e saiu pro abraço.

Na hora de reconhecer o erro, no entanto, o nome da assessoria logo é estampado em letras garrafais.

Para mim, creditar a informação que vem das assessorias já seria um bom começo.

Ao leitor, portanto, que reste ao menos a opção da dúvida.

(O título do post, lá em cima, é inspirado numa resposta que obtive do primeiro jornalista que entrevistei para a dissertação. Ao ser questionado se acreditava ser Assessoria de Imprensa Jornalismo, ele disse na lata: "Assim como a Eutanásia está para a Medicina").

E vocês, o que acham?

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Sub judice

Não se esqueçam de levar os tomates!


Neste sábado, a mídia de Pernambuco fará papel de ré num julgamento simulado em praça pública. A acusação: violação dos direitos humanos. O público fará as vezes do juiz, promotores, advogados e júri.

A ação, parte das movimentações em torno do Dia Mundial de Ação para Justiça Global, é capitaneada pelo Observatório de Mídia Regional, projeto ligado ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPE.

Serviço:
Júri Popular sobre violação dos direitos humanos pela mídia
Onde: Parque Treze de Maio, Boa Vista, Recife
Quando: 26 de Janeiro, a partir das 15h
Contato: observatório.midia@ufpe.br

Confira a notícia completa neste link.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Repórter Y

'Tô exigindo demais, mas bem que poderia haver mais Clarks por aí

Muita gente já me pediu para que esclarecesse melhor o que classifico como 'jornalismo cordial' e acho que, bem ou mal, sempre acabo conseguindo fazer-me entender.

Poucos são os que me questionam sobre o contraponto desse conceito, aquilo que viria a ser um jornalismo não-cordial (na falta de melhor definição).

Como acredito que os bons exemplos falam por si - bem melhor do que minhas tentativas de explicação -, sem maiores delongas, para mim jornalismo não-cordial é isso aqui. E jornalista não-cordial? Pode clicar aqui, para entender o que acredito ser um 'espécime' de repórter na real acepção da palavra. O tal Repórter Y do título lá em cima.

Em tempo: para entender toda a celeuma sobre a regra da mordaça que a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco criou e 'descriou' esta semana, um ótimo resumo foi preparado pelo blog E Você com Isso?, do jornalista Marcelo Soares.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Quem copia um conto, aumenta um ponto

Como em Hemingway, o peixe nas histórias acaba sempre maior


Que as fontes reclamam constantemente de desvirtuamento das informações repassadas, mudanças consideráveis nas frases e edição desfavorável - ou maliciosa - não é novidade.

O que tenho ouvido e visto ultimamente, no entanto, vai além de uma 'mera' edição truncada.

Entrevistados têm se deparado com suas declarações publicadas em veículos que não aqueles a quem forneceram a informação originalmente, e ainda com outro elemento surpresa: os depoimentos acabam completamente diferentes do original, com acréscimo de opiniões não-ditas, interjeições e até números. Tudo falso.

Situação parecida aconteceu com uma leitora deste blog. Uma das prejudicadas pelo 'caso BRA', com passagens compradas para a Europa, deu várias entrevistas como personagem da história.

Como ela pôde constatar depois, muitas declarações foram replicadas, decerto por agências, o que acabou resultando no que ela classifica como "versões ridículas".

Uma em especial, relata, a deixou "revoltada e questionando o que há por trás de uma marca como Jornal do Brasil". A matéria pode ser acessada por este link.

Agora os esclarecimentos da leitora:

. "Em primeiro lugar, nem em sonho teríamos comprado passagens para Madri por apenas R$ 936. Mesmo aproveitando a promoção que pagava uma passagem integral para dois passageiros, desembolsamos algo em torno de R$ 2.300. No grupo, entretanto, havia muitos passageiros que pagaram tabela cheia, entre R$ 4 mil e R$ 5 mil reais".

. "Em nenhum momento falei com qualquer repórter do JB – e mesmo assim eles usaram minhas declarações".

. "A terceira e final prova da falta de apuração é citarem o nome de meu marido como sendo um 'outro passageiro', que estaria em situação idêntica à minha – viajando para passar 30 dias para a Europa com a esposa dele".


O que mais chocou a passageira não foi somente o uso de informações falsas, mas principalmente o fato de os repórteres não terem sequer se dado ao trabalho de confrontar as informações que estavam sendo veiculadas.

É triste, mas o jornalismo cordial parece que veio para ficar. Sem data de retorno.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Boca do Inferno

Gregório de Matos Guerra (Salvador, 1636 - Recife, 1695)


Já sentenciava Gregório de Matos: "O todo sem a parte não é todo/A parte sem o todo não é parte", se não me esqueci dessa parte - sem trocadilhos - da lírica do Boca do Inferno.

E é nesse pensamento que reflito sobre a relação entre assessorias de imprensa e os jornais. A complexidade é tanta, que há momentos nos quais não se sabe exatamente quem faz o quê, e a quem cabem os louros ou os tomates.

Por tabela, a responsabilidade da informação produzida por assessores, mas publicada por jornais, tende a ser terra de ninguém.

Afinal, quem deve responder pelos erros? O assessor que apurou e escreveu? Ou o repórter que não checou e publicou?

Na dúvida, este jornal tascou a culpa na assessoria, como provam as notas a seguir:

(08/01/2008)
"Jair Pereira produz, este ano, o desfile do Galo e vai mixar ritmos pernambucanos, baianos e cariocas"

(09/01/2008)
"A Aponte equivocou-se: Jair Pereira produz só o camarote Galo Mais. Nada de produção do Galo da Madrugada, como publicamos"


Ah, então 'tá.

E vocês, o que acham? A quem condenariam no tribunal da ética jornalística?

(Ju, muito obrigada pelo envio desse exemplo. Esse post é pra você!)

sábado, 19 de janeiro de 2008

Assum Preto

Na música de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, o assum preto, pássaro do sertão, tem os olhos furados para cantar melhor.

Hoje, numa raríssima aparição na praia, meus óculos de grau (e põe grau nisso), companhia certa desde a infância, foram embora com a primeira onda nas águas mornas da Praia de Boa Viagem.

Tal qual a ave imortalizada por Gonzagão, fiquei sem prumo. Quem sabe, numa paráfrase à letra magistral da dupla, eu passe a escrever melhor e consiga concluir todos os artigos que preciso entregar até o final do mês.

Por enquanto, acho que ainda não encontrei meu rumo nos textos acadêmicos. Mas eu chego lá, com as bênçãos de Iemanjá, que deve ser míope como eu. Que meus óculos a sirvam bem.

Assim sendo, fiquem com a bela toada, que eu não estou enxergando lhufas para escrever uma linha a mais que seja:

Assum Preto

Composição: Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira

Tudo em vorta é só beleza
Sol de Abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor
Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantá de mió
Assum Preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá
Assum Preto, o meu cantar
É tão triste como o teu
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

nem quente, nem frio (morno?)

A rede não balançou, a zebrinha marcou a coluna do meio!

Amigos, não tentem fazer isso em casa.

Deleitem-se com um título que ocupou três linhas e uma coluna do caderno de Esportes do JC desta quinta-feira:

Central nem ganha nem perde

De início, eu pensava se tratar de alguma bossa, sabe-se lá, de repente a pontuação alcançada pelo time de Caruaru não havia melhorado e nem piorado a situação no campeonato, fazendo com que o Central permanecesse na mesma posição na tabela de classificação. Qual nada! A matéria informava é que a equipe havia empatado no jogo mesmo.

Diante da gloriosa frase, que para sempre será evocada em minhas aulas, só me veio uma coisa à mente: deadline é pho...go!

Em tempo: o fato de ser mãe de duas pequerruchas (uma ainda mamando), fazer doutorado, dar aulas, ter uma casa para colocar nos eixos e, principalmente, estar temporariamente em local com acesso precário à rede, está provocando essas absurdas demoras na atualização deste blog.

Peço zilhões de perdões aos meus poucos, porém fidelíssimos, 'leitores', fazendo votos de que não me abandonem! Aos que chegaram agora, continuem visitando este espaço. O blog e a minha pesquisa não teriam lá muito sentido sem vocês.



segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

tirem as crianças da sala

“Colecionar histórias de horror sobre os delitos jornalísticos é fácil, mas avançar na direção de uma cura racional para os problemas da profissão é muito mais difícil”

por Philip Meyer, em: A ética no jornalismo: um guia para estudantes, profissionais e leitores. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989.

Caríssimos, salvem!

Estas duas imagens que aparecem abaixo são um release divulgado pela assessoria de imprensa do Wal-Mart sobre a inauguração de um supermercado em São Paulo.

O documento informa, logo no primeiro parágrafo, que a nova loja irá funcionar no bairro de Indianápolis, e ao longo de todo o texto são feitas várias referências à localização (nome da avenida, dados sobre o bairro, potencial da região etc).





Entre as diversas matérias que foram originadas desse release na imprensa, uma, especialíssima, destaca-se.

Além de copiar todos os trechos do press-release e publicar exatamente um fac simile do original, o jornalista/editor 'responsável' pelo texto, certamente por não ter sequer lido o conteúdo do que publicaria, ainda trocou as bolas e tascou, lá no título, que a referida loja seria inaugurada no Recife. E não em São Paulo, como o indicado no material divulgado pelo Wal-Mart.

A 'matéria' foi manchete da Gazeta Mercantil, seção NE (Gazeta do Brasil), no dia 26 de agosto de 2004. Sequer uma palavra foi modificada do texto original. A errata saiu, no dia seguinte, naturalmente pequena e sem destaque.



Decidi não mostrar o nome do repórter por um motivo simples: meu objetivo é analisar exemplos de jornalismo sem compromisso com a ética e a apuração, não execrar publicamente quem comete os desatinos.

Quem se interessar em ler a matéria na versão original (o arquivo era muito pesado para o blog), é só entrar em contato comigo (adriana.santana@superig.com.br)

sábado, 12 de janeiro de 2008

de pecados e redenções

eu juro que não faço de novo! a culpa é da contingência da vida...

perdoem-me, porque pequei. cometi o mais capital dos pecados na rede: fiquei, temporariamente, sem publicar. o motivo foi justo: precisei ausentar-me - e ir a um lugar desconectado ao mundo - para que todos os vis e abjetos insetos habitantes da minha residência fossem exterminados pelo meu novo herói, o dedetizador.

durante todo o final de semana estou ministrando um curso intensivo (fugi uns instantes agora), razão pela qual só retornarei aos posts na segunda-feira. data em que publicarei, sem mais delongas, o exemplo de plágio jornalístico descarado e preguiçoso que tanto prometi.

esperem, pois me regenerarei. com juros. e correção.


quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

CTRL+C CTRL+V

apurar? mas pra quê? dá um trabaaaaalho...

As senhoras e senhores decerto irão concordar que a releasemania não é de todo nova, como atesta o livro homônimo de Gérson Moreira Lima.

Ainda no início dos anos '80, à sombra do regime militar, o autor questionava se o excesso do uso do release nos jornais seria reflexo da dificuldade do acesso dos jornalistas brasileiros às fontes, ou se o inverso, ou seja, se a ‘avalanche’ dos releases não seria um fator diretamente "responsável pelo fechamento das fontes de informação".

O sociólogo francês Erik Neveu (em "Sociologia do Jornalismo") também lembra que, na longínqua década de '20 do século passado, boa leva das notícias publicadas nos jornais norte-americanos provinha de assessorias de imprensa.

Posso estar com saudades do futuro, mas no meu entender esse processo de uso e abuso de releases vem de longe, é certo, mas está vivendo o ápice é nos dias de hoje.

A quantidade de exemplos de releases publicados na íntegra, assinados até, é um forte indicador. Alguns colegas me escreveram para relatar casos parecidos - alguns beiram o surreal pela cafajestada e preguiça.

Agora, permitam-me um teaser. Amanhã, posto aqui um caso de publicação de release sui generis: rendeu manchete de caderno, continha um erro absurdo de informação e, naturalmente, a assinatura do repórter (?) brilhava no alto da página. Não percam!

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

eu lhes darei o céu, meus bens

Help! I need somebody, not just anybody, you know I need someone

Caros, procuro jornalistas que topem participar da minha pesquisa de doutorado com depoimentos e exemplos de 'jornalismo cordial'.

Se vocês se depararem com matérias que considerem passíveis de análise - quer seja pelo fato de terem sido realizadas sem qualquer apuração, conter deslizes crassos por falta de checagem ou, ao contrário, por serem belos espécimes de jornalismo fruto de investigação - , por favor, socializem comigo. Via blog ou por email (adriana.santana@superig.com.br).

Gracias desde já!

domingo, 6 de janeiro de 2008

Esses moços, pobres moços...

Faço meus os lamentos de Lupicínio Rodrigues


A ditadura do papel é mesmo um desatino na vida das moças e moços operários do jornalismo impresso. Pois vejam um caso que aconteceu na edição de sábado (05.01) do Jornal do Commercio, matutino localizado no Recife, misto de província e metrópole marginal, de onde vim e para onde sempre acabo retornando. De bom grado.

Como a sexta-feira havia sido bastante movimentada do ponto de vista noticioso, especialmente em relação aos assuntos urbanos (um caminhão invadiu uma lan house, matando duas pessoas e ferindo outras dez, por exemplo), sobrou apenas uma tripinha de página à matéria sobre uma grande varredura realizada no explosivo Presídio Aníbal Bruno.

Como acompanho de perto o competentíssimo* trabalho dos repórteres e editores do caderno de Cidades, imagino como não deve ter doído espremer tanto assunto num naquinho de nada de espaço. Principalmente quando se observa o que os policiais encontraram na apreensão: além dos tradicionais celulares, facas e barros de ferro, os PMs apreenderam sete ventiladores de teto e quase R$ 7 mil reais.

O montante estava, e aí vem a parte 'boa', em poder de um detento que é dono de uma das cantinas do presídio. Como assim, cantina? E preso pode ser comerciante dentro do presídio? Foi o que me perguntei no ato, e não obtive resposta, pois a nota só contava com 12 míseras linhas. Acredito que não fui a única a ter curiosidade em saber mais sobre o caso. E ficou por isso mesmo, tchau, adeus e bênção, que o jornal já está embrulhando peixe desde domingo.

*Antes que me acusem de rasgação de seda gratuita, ofereço de antemão a outra face e deixo claro que tenho, sim, orgulho de ter-me iniciado na seita jornalística naquela 'casa gráfica e editora', e que faço reverência, de joelhos e tudo, a muitos profissionais que trabalham no JC. Assim esclarecido, emendo que, na minha humilíssima opinião, faz-se por lá um dos melhores expoentes do jornalismo de investigação, vide, por exemplo, o pessoal do PEBodyCount. E tenho dito.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

groupie literária

o autógrafo não foi para mim, mas e daí?


Se houvesse um grupamento humano caracterizado pela quase veneração a determinados textos, linhas de pensamento ou estilos de escrita, certamente eu seria voluntariamente enquadrada na categoria de 'groupie' de GGM, Rubem Braga, Machado de Assis e Fernando Pessoa. Dessa forma, não resistirei a postar um excerto do discurso de um deles. O colombiano. Acerca, naturalmente, 'del periodismo'.

Como estou às voltas com uma penca de artigos para serem entregues anteontem, perdoem-me pela ausência de posts sobre minha pesquisa. Eles voltarão dentro em breve. Aguardem. E fiquem com Gabo:

"Toda a formação (do jornalista) deve se sustentar em três vigas mestras: a prioridade das aptidões e das vocações, a certeza de que a investigação não é uma especialidade dentro da profissão, mas que todo jornalismo deve ser investigativo por definição, e a consciência de que a ética não é uma condição ocasional, e sim que deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro". Discurso completo aqui.

*Em tempo: quem assistiu à versão cinematográfica de Cem Anos de Solidão decerto quase teve uma síncope, como eu, ao escutar a voz de taquara engasgada de Shakira a 'embalar' alguns momentos da trama. Medo, muito medo! A quem interessar possa, crítica no Cine Repórter.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

aprendendo a ser óbvio

Perdoe-me, mestre Nelson, porque pequei. Caí na obviedade e gostei!


Reparem bem, camaradas. As grandes sacadas, aquelas realmente geniais, geralmente são, partem ou têm a intenção de ser ingênuas e simples obviedades. Nada mais cientificamente belo do que transformar num claríssimo e curto conceito algo de uma complexidade e profusão espantosas. Vide as fórmulas mais conhecidas, ao menos a leigos como a pobre missivista deste outro lado da tela, como a famosérrima e decoradíssima cria que se atribui a Herr Einstein, e=mc2. O cara (ou quem quer que tenha vindo antes) conseguiu materizalizar a relação entre energia e massa em apenas cinco caracteres... É para poucos. Poucos e iluminados. Como Nelson Rodrigues, sentenciando que "só os profetas enxergam o óbvio".

Particularmente, e agora falando da minha seara (jornalismo e academia), me aborrecem demais artigos empolados, chatos e embolorados, que dão mil voltas em torno do próprio umbigo só para destilar palavras pouco usuais e conceitos cabeçóides. Trocentas linhas para comentar o quão azul pode parecer o céu desta noite. Descontando os exageros da minha mente perversa e ranzinza, não é de todo difícil se deparar com textos similares, as senhoras e senhores hão de concordar comigo.

Assim sendo, decidi postar uma obviedade muito legal que eu encontrei num livro já 'antigo' (MEYER, Philip. A ética no jornalismo: um guia para estudantes, profissionais e leitores. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989), mas recheado de conceitos simples, que dizem tanto - e de modo tão redondinho - sobre o fazer jornalístico. Este trechinho (editado) trata do que ele chama de "Código Oculto dos Jornalistas". São apenas cinco itens, mas que parecem resumir boa parte da nossa realidade profissional. Quero ser assim, literariamente econômica, quando crescer.

1) a história originada por outro veículo nunca é tão jornalisticamente valiosa quanto a feita pelo nosso
2) os jornais são escritos para outros jornalistas, não para o leitor em geral
3) evitar admitir diretamente um engano
4) publicar sempre, independentemente do custo (“dormir com matéria é acordar com furo”, comentário meu)
5) máxima: se envolve dinheiro nessa história, provavelmente é ruim (partindo do sofisma: "Repórteres são boas pessoas. Repórteres nunca têm nenhum dinheiro. Portanto, o dinheiro é ruim"