Uma das mais engraçadas historietas que já circularam nas rodas de jornalistas de Pernambuco dava conta de uma personagem que, em entrevista a uma rede de televisão, reclamava do "sistema nervoso que o médico havia colocado" no marido.
Segundo a aflita esposa, antes de fazer determinada cirurgia (não me lembro qual tipo), o cidadão era pacato, tranquilo, quase angelical. Depois da intervenção, no entanto, o pobre coitado passara a "sofrer de sistema nervoso". Eu assisti à matéria, que foi ao ar no final dos anos 90, e quase fiquei também com sistema nervoso, de tanto rir. Eu sei, a situação era trágica - mas tinha lá sua boa dose de comicidade.
Ontem, assistindo a uma emissora local, vi um policial sendo entrevistado a respeito da prisão de suspeitos de assalto. No final da conversa, ele resolve explicar como havia encontrado o bando: "Eles estavam esperando por um mecânico, pois o carro deles entrou em pânico". Juro que ouvi isso.
O riso foi inevitável, mas a vontade foi de chorar.
Sei que, nesse caso, os coleguinhas não tiveram culpa alguma. Mas, por alguma louca associação, lembrei-me do desespero de um repórter iniciante que, ao presenciar o comportamento de um colega, que demonstrava total ausência de ética e desrespeito com a fonte, ouviu um "bem-vindo ao jornalismo" como justificativa.
Sei que posso incorrer no erro de estar eternamente presa a uma visão boba, naïve e descolada da dura realidade, mas ainda prefiro me agarrar à ética em tempos de desespero.
Tal como Castro Alves, no poema O Laço de Fita, prendi-me a ela e não quero soltar.
4 comentários:
Acredito que todo jornalista verdadeiro nunca larga a fita. Pena que haja tanta fita solta por aí.
p.s.: De onde são as imagens dos dois posts anteriores?
eduarda, muita fita 'tá solta mesmo, mas não podemos nos esquecer de que muita gente boa continua atada a ela, por convicção.
sobre as outras imagens, encontrei em blogs. como não haviam sido publicadas originalmente nesses sites, não tive como rastrear o local original. vou tentar achar e te digo!
Olá, Adriana
Estou lendo um livro do Ciro Marcondes Filho chamado Jornalismo e Comunicação: a Saga dos Cães Perdidos, que fala dos rumos (ou da falta deles) da profissão de jornalista no mundo contemporâneo, lembra muito a sua pesquisa.
oi, carlos. li o livro, fiz muitas referências a ele na dissertação. gosto do termo 'desintegração', que ele usa para falar da diminuição da figura do repórter. valeu pela visita e dica bibliográfica! :)
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