quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Quem copia um conto, aumenta um ponto

Como em Hemingway, o peixe nas histórias acaba sempre maior


Que as fontes reclamam constantemente de desvirtuamento das informações repassadas, mudanças consideráveis nas frases e edição desfavorável - ou maliciosa - não é novidade.

O que tenho ouvido e visto ultimamente, no entanto, vai além de uma 'mera' edição truncada.

Entrevistados têm se deparado com suas declarações publicadas em veículos que não aqueles a quem forneceram a informação originalmente, e ainda com outro elemento surpresa: os depoimentos acabam completamente diferentes do original, com acréscimo de opiniões não-ditas, interjeições e até números. Tudo falso.

Situação parecida aconteceu com uma leitora deste blog. Uma das prejudicadas pelo 'caso BRA', com passagens compradas para a Europa, deu várias entrevistas como personagem da história.

Como ela pôde constatar depois, muitas declarações foram replicadas, decerto por agências, o que acabou resultando no que ela classifica como "versões ridículas".

Uma em especial, relata, a deixou "revoltada e questionando o que há por trás de uma marca como Jornal do Brasil". A matéria pode ser acessada por este link.

Agora os esclarecimentos da leitora:

. "Em primeiro lugar, nem em sonho teríamos comprado passagens para Madri por apenas R$ 936. Mesmo aproveitando a promoção que pagava uma passagem integral para dois passageiros, desembolsamos algo em torno de R$ 2.300. No grupo, entretanto, havia muitos passageiros que pagaram tabela cheia, entre R$ 4 mil e R$ 5 mil reais".

. "Em nenhum momento falei com qualquer repórter do JB – e mesmo assim eles usaram minhas declarações".

. "A terceira e final prova da falta de apuração é citarem o nome de meu marido como sendo um 'outro passageiro', que estaria em situação idêntica à minha – viajando para passar 30 dias para a Europa com a esposa dele".


O que mais chocou a passageira não foi somente o uso de informações falsas, mas principalmente o fato de os repórteres não terem sequer se dado ao trabalho de confrontar as informações que estavam sendo veiculadas.

É triste, mas o jornalismo cordial parece que veio para ficar. Sem data de retorno.

3 comentários:

Marcelo disse...

OK. Mas de onde podem ter saído as aspas?

Anônimo disse...

acredito que as aspas saíram da entrevista que ela deu, originalmente, à Folha Online e ao G1 (como ela me informou).

na verdade, não considero esses errinhos ou exageros de todo graves. são bobaginhas. o que me incomodam são as licenças poéticas. de concessão em concessão, acabamos criando um monstrengo noticioso.

a primeira vez que me deparei com uma dessas 'licenças' eu ainda estava no colégio. fui entrevistada por uma repórter sobre a relação entre os jovens e as tradições. ela me perguntou se eu toparia fazer uma foto comendo uma canjica (era época de São João). depois, me perguntou se eu me fantasiava de caipira, e eu disse que sim, sempre, que eu não abria mão de participar de quadrilhas e coisas do gênero.

no outro dia, sai a minha foto com a legenda: "A estudante Adriana, flagrada comendo uma canjiquinha" e a minha declaração: "Sempre arranjo um vestido vermelho, bem espalhafatoso, e coloco uma maquiagem 'cheguei' e uma rosa nos cabelos". Eu, aos 16 anos, quase surtei. Imagina só a gozação na escola! :))

Marcelo disse...

Te citei lá no blog, numa pensata que fiz a respeito dessas coisas todas e mais o rolo do Requião. De vez em quando preciso pensar com os dedos, pra organizar as idéias, e em público, pra medir o tamanho dos eventuais absurdos.