segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Boca do Inferno
Já sentenciava Gregório de Matos: "O todo sem a parte não é todo/A parte sem o todo não é parte", se não me esqueci dessa parte - sem trocadilhos - da lírica do Boca do Inferno.
E é nesse pensamento que reflito sobre a relação entre assessorias de imprensa e os jornais. A complexidade é tanta, que há momentos nos quais não se sabe exatamente quem faz o quê, e a quem cabem os louros ou os tomates.
Por tabela, a responsabilidade da informação produzida por assessores, mas publicada por jornais, tende a ser terra de ninguém.
Afinal, quem deve responder pelos erros? O assessor que apurou e escreveu? Ou o repórter que não checou e publicou?
Na dúvida, este jornal tascou a culpa na assessoria, como provam as notas a seguir:
(08/01/2008)
"Jair Pereira produz, este ano, o desfile do Galo e vai mixar ritmos pernambucanos, baianos e cariocas"
(09/01/2008)
"A Aponte equivocou-se: Jair Pereira produz só o camarote Galo Mais. Nada de produção do Galo da Madrugada, como publicamos"
Ah, então 'tá.
E vocês, o que acham? A quem condenariam no tribunal da ética jornalística?
(Ju, muito obrigada pelo envio desse exemplo. Esse post é pra você!)
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5 comentários:
O caso não precisa nem chegar ao tribunal da ética. Já na hora de registrar ocorrência na delegacia da técnica o repórter foi preso em flagrante.
Sobre a enquete: complicado, viu?
1) Rádio que tem repórter na rua de gravador ligado (o que não chega a ser exatamente apuração) já é algo a ser celebrado. Na média, o que ouço é trabalho de recortagem e espetáculos de falação (ou talk shows, se preferir). Tenho baixado da internet alguns documentários em áudio da BBC pra ouvir no iPobre que eu levo no bolso. Coisa de primeira linha. Impossível imaginar algo daquele nível sendo feito no Brasil.
2) TV tem mais repórteres de câmera ligada do que rádio. Mas não é em todas as redes. Apuração mais cuidada, mesmo, é menos do que em jornal. Mas releve: eu sou um sujeito que não tem saco de assistir TV.
3) Os jornais são um caldo interessante. Há muito pouca apuração no Brasil. Essa apuração se concentra nos grandes jornais do Rio e de São Paulo, que distribuem o material pro Brasil inteiro por meio de suas agências, socializando assim um pouco de apuração. Alguns jornais regionais fazem boas matérias, simples mas bem apuradas. Na época do escândalo dos Sanguessugas, eu ficava espantado com a qualidade das matérias exclusivas dos jornais matogrossenses.
4) Sou rato de banca de revistas, desde a infância. Mas confesso abestalhado que estou decepcionado nos últimos anos com as brasileiras. Das semanais que vejo nas bancas em São Paulo, pra ter uma idéia, as melhores que compro de vez em quando são a The Economist e a Newsweek. Ah, as nacionais? Atualmente, só consigo ler a Época - e mesmo assim sem em nenhum momento perder o sono de tanto interesse em alguma reportagem (o que acontece sempre com a Economist, fazendo valer o preço salgado). Eu tenho uma coleção grande de revistas antigas em casa. Uma boa leva de Veja de 1971, por exemplo. Se você lê aquelas revistas e lê a Veja de hoje, bate a mão na cabeça e chora. Das mensais, a Piauí é potencialmente boa. Mas ela é que nem o Yingwie Malmsteen, aquele guitarrista sueco que tocava 30 notas por segundo. O cara toca pra caramba, mas é tão focado na estética que depois dos primeiros três minutos (ou números) o troço fica chato pra caramba. As primeiras eu comprei direto. Hoje, leio o índice antes pra ver se tem algum assunto que me interesse. A Brasileiros me cansou no segundo número, com o polianismo todo. Não fiz questão de ler a entrevista do Lula com o compadre dele. Papo de compadre por papo de compadre, sou mais os que tenho com os meus amigos...
5) Internet, ah, a internet... tem de tudo lá, principalmente controlcê-controlvê. Mas não conheço nenhum site voltado à apuração. O Blog do Noblat fazia um pouco isso, em pílulas, na época do escândalo do mensalão. Mas faz tempo que não vejo informações exclusivas lá.
6) Livro é que nem internet: tem de tudo, não dá pra analisar como uma coisa só. Vários livros de jornalistas têm mais apuração do que qualquer coisa que saia em jornal, revista, internet ou o que o valha. Isso deixa o dedinho no mouse tentado a clicar ali. Mas, se for olhar a proporção dos livros apurados em relação a todos os outros livros que saem, ela é possivelmente menor do que a de jornais que cometem apuração em relação a todos os jornais brasileiros.
E agora, quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Descobre, Adriana, tua tese é pra isso! Hahaha!
marcelo, seus comentários, por si só, valem o esforço de postar aqui no blogspot sem enxergar um palmo diante do nariz! :) valeu!
sobre seu livro: comecei a ler e estou esperando meus novos óculos chegarem para devorar o restante. por isso, perdão pela demora.
duda, no ritmo que ando e na fase 'não toque em mim que eu dou choque', o medo da tese é tanto, que até toparia trocar o tema pelo lance do ovo e da galinha mesmo. :)
Ei, Adri,
Estou providenciando outros exemplos pra vc. :-)
beijosss,
Ju.
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