
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
Dois pesos, duas medidas

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Entre o copo e o cinzeiro

Se eu quiser fumar eu fumo
Não me interessa mais ninguém
Se o meu passado foi lama
Hoje quem me difama
Viveu na lama também "
(trecho de 'Lama', de Arrigo Barnabé)
Duas questões de saúde e segurança públicas estão sendo tratadas sob vieses completamente diferentes por uma parcela da imprensa. Aqui, vou me ater à pernambucana.
Enquanto a questão da proibição do fumo em ambientes públicos é reservada aos cadernos de cotidiano, com a tônica de problema de vigilância sanitária, com foco no incentivo à resolução, a decisão de impedir a venda de bebidas alcoólicas nas rodovias federais virou fato econômico - sob a ótica de fechamento dos negócios e possível aumento no desemprego no setor. A exceção é de algumas matérias nos cadernos culturais, que trazem a discussão sobre o que chamam de "direitos dos fumantes em xeque".
A campanha contra a proibição de venda de bebidas é clara nos jornais. Os restaurantes vão quebrar, os garçons perderão emprego, as pessoas deixarão de ir aos estabelecimentos. Pelo discurso, o caos será instaurado na economia pernambucana com a manutenção da medida. O pandemônio, em suma.
Seguem algumas manchetes:
sobre a proibição de venda de bebidas nas estradas:
Lei seca ameaça empregos de bares e restaurantes - JC, 22/02
Editorial: os perigos da lei seca, JC, 16/02
Lei seca ameaça o turismo - JC, 09/02
OAB quer flexibilizar MP das medidas - DP, 21/02
Protesto de donos de bares interdita BR - 232 - DP, 21/02
sobre o fim do cigarro em estabelecimentos:
Cerco fechado aos fumantes - JC, 12/02
Bar que não punir fumo será multado - JC, 09/02
Proibido fumar! Reunião discute início das fiscalizações em bares - DP, 11/02
No meu entender, dois pesos e duas medidas estão sendo usados para lidar com o tema.
Esta semana, escutei até como argumento contra, numa entrevista para programa de TV, o "fato" que já houve afastamentos de funcionários temporários após o Carnaval. Mas não é verdade que, todos os anos, os temporários, como o próprio nome diz, são comumente contratados para o período de festas e, passado o reinado de Momo, logo dispensados? Por que agora a culpa é exclusivamente da falta de álcool às mesas dos estabelecimentos de beira de estrada?
E vocês, o que acham?
Para entender mais sobre o assunto:
Governo proíbe venda de bebibas alcoólicas em rodovias federais - G1, 21 de janeiro 08
Liminar libera venda de bebidas alcoólicas em rodovias do DF - Folha online, 01 de fevereiro 08
Venda de bebida à beira de estrada no Rio volta a ser proibida - Globo online, 26 de fevereiro 08
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
A mão de Obama

O tamanho de Fidel, a pele de Obama…
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
De maledicências, veredictos e julgamentos

Pingos nos is
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
A Flor e a Náusea
Notícia boa merece ser reverberada. Espalhada aos quatro ventos. Tal como a boa nova que vem do OmbudsPE, projeto que monitora a imprensa pernambucana, especialmente no que concerne a respeito aos direitos humanos.
O site havia publicado, em novembro, um comentário sobre os famigerados anúncios publicitários disfarçados de notícia, com destaque para os veiculados no Jornal do Commercio. A denúncia foi enviada à Agência Nacional de Jornais (ANJ).
No início deste mês de fevereiro, a ANJ reconheceu o erro e mandou resposta pela assessoria de imprensa:
"Informo que a diretoria da Associação Nacional de Jornais, depois de consultar o Jornal do Commercio a respeito da denúncia por você encaminhada, de que o jornal havia veiculado publicidade sem a devida caracterização, considerou satisfatória e adequada a explicação daquele periódico. O Jornal do Commercio admitiu o equívoco, explicando que deveu-se à falha da agência de publicidade e falta de comunicação com a equipe de produção do jornal. O anúncio foi produzido sem a devida caracterização pela agência e esta falha passou despercebida pelo editor da página. Além de lamentar o equivoco, o Jornal do Commercio manifestou a certeza de que não voltará a ocorrer. Agradecemos sua iniciativa de apontar o problema, que consideramos como uma contribuição para o padrão de jornalismo ético defendido pela ANJ."
A equipe do OmbudsPE informa que "a resposta da associação empresarial nos anima para que utilizemos ainda mais esse canal para apontar desvios no código de ética apontado pela própria entidade". Link completo do texto.
Não lhes parece essa notícia um pouco com a flor de que falava Drummond? Um fiapinho de esperança em meio às náuseas do mundo.
A Flor e a Náusea
(Carlos Drummond de Andrade)
"Preso à minha classe e a algumas roupas
Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo? Posso, sem armas, revoltar-me?
(...)
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia.
Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia.
Mas é uma flor.
Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio. "
(leia o poema completo)
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
Espelho, espelho meu

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
Vai um release aê, tio?

E esmola, vocês sabem, vicia o cidadão.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
imposturas intelectuais

Um intelectual, contrário à medida, bradava que o ato de fumar estava diretamente ligado a um tempo em que nosotros escrevíamos, pensávamos, amávamos e até viviámos melhor. Isso mesmo, vocês não leram errado.
Para o entrevistado em questão, a fumaça teria esse poder mítico tamanho, capaz de deixar afluir o talento, de fazer aflorar as mais legítimas inspirações artísticas. Algo como uma versão fumê das musas da antiguidade clássica.
Concordando ou não com o argumento, e aí coloco o jornalismo na conversa, comecei a me indagar sobre o papel do repórter em situações como essas.
O autor da matéria em questão colocou, logo em seguida a esse depoimento, uma declaração de Danuza Leão, fumante, mas que se afirmava solidária à causa anti-tabagista. Não sei, mas ainda assim senti falta de algum depoimento que comentasse a declaração do intelectual, talvez um pesquisador ligado à área de comportamento humano para explicar se essa relação prazer do cigarro x inspiração teria algum fundamento, ou então que não passaria de balela das grandes (voto nessa alternativa). Algo que ao menos movimentasse a discussão em torno da declaração tresloucada do cidadão.
Sabem, acho que devo estar ficando velha pr'algumas coisas. Noutros tempos, morreria de rir ao ler as aspas desse cara. Hoje, fico me perguntando o que se passa na cabeça das pessoas para soltarem tamanha asneira quando avistam um gravador, microfone ou bloquinho. Será que é a síndrome do "quero ser eternizado por minhas frases de efeito e estilo cabeçóide"?
(o título deste post é uma referência ao ótimo - e polêmico - livro Imposturas Intelectuais, com o qual já dei sonoras gargalhadas)
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
"Grave e estável"

Na Austrália, presidente do Timor está em ‘estado crítico, mas estável’ (G1)
Timor-Leste: Ramos-Horta a ser operado, situação clínica "extremamente grave, mas estável" (Lusa, agência de notícias PT)
Apropo: abaixo, letra da canção East Timor, libelo a favor da libertação do então Timor-Leste da Indonésia.
(por Henning Kramer Dahl,Havard Rem,Morten Harket)
EAST TIMOR
Cut them down
Plant coffee beans
Build no schools
Construct no roads
Mark them as fools
Let ignorance rule
Leave them stranded on their island
Treat them to the tune of silence
Red is the cross that covers out shame
Every Kingdom, every land
Has it's heart in the common man
Silently the tide shifts the sand
Bury my heart on East-Timor
In coral sands
On golden shores
Buried are those
Who lived their lives
No place to hide for
Father and child
Leave them stranded on their island
Treat them to the tune of silence
We shake the hands that kill and forgive
Every Kingdom, every land
Has its heart in the common man
Silently the tide shifts the sand
Bury my heart on East-Timor
On barren graves
Where flowers won't grow
Blooms our Red cross lovingly
This nightingale deed
So we can be free
Stranded on their island
This army of the silent
We toast our own goodwill and forget
Every kingdom, every land
Has its heart in the common man
Silently the tide shifts the sand
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Pânico no sistema nervoso
Uma das mais engraçadas historietas que já circularam nas rodas de jornalistas de Pernambuco dava conta de uma personagem que, em entrevista a uma rede de televisão, reclamava do "sistema nervoso que o médico havia colocado" no marido.
Segundo a aflita esposa, antes de fazer determinada cirurgia (não me lembro qual tipo), o cidadão era pacato, tranquilo, quase angelical. Depois da intervenção, no entanto, o pobre coitado passara a "sofrer de sistema nervoso". Eu assisti à matéria, que foi ao ar no final dos anos 90, e quase fiquei também com sistema nervoso, de tanto rir. Eu sei, a situação era trágica - mas tinha lá sua boa dose de comicidade.
Ontem, assistindo a uma emissora local, vi um policial sendo entrevistado a respeito da prisão de suspeitos de assalto. No final da conversa, ele resolve explicar como havia encontrado o bando: "Eles estavam esperando por um mecânico, pois o carro deles entrou em pânico". Juro que ouvi isso.
O riso foi inevitável, mas a vontade foi de chorar.
Sei que, nesse caso, os coleguinhas não tiveram culpa alguma. Mas, por alguma louca associação, lembrei-me do desespero de um repórter iniciante que, ao presenciar o comportamento de um colega, que demonstrava total ausência de ética e desrespeito com a fonte, ouviu um "bem-vindo ao jornalismo" como justificativa.
Sei que posso incorrer no erro de estar eternamente presa a uma visão boba, naïve e descolada da dura realidade, mas ainda prefiro me agarrar à ética em tempos de desespero.
Tal como Castro Alves, no poema O Laço de Fita, prendi-me a ela e não quero soltar.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
A casa, a rua e o outro mundo

Mas isso é tema para outro post. Inté!
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
Até quarta, Isabela

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
É frevo, meu bem!
Meu incômodo com a cobertura carnavalesca parece arrefecer com os anos, de cansaço, mas confesso que ainda me irrita a insistência de alguns veículos em concentrar o tema em trios elétricos de Salvador e escolas de samba no Rio.
Esse comentário poderia ser um ranço bairrista, mas nem é. Abandonei o bairrismo há pelo menos uma década e, ao contrário de parte dos meus conterrâneos, gosto muitíssimo de de SSA e o Rio, claro, lindo continua.
Mas creio que não é pedir demais que o olhar jornalístico seja levado na direção do vento nordeste, para que se veja como o chão ferve na pisada da "mistura colorida da massa", conforme eternizado por Alceu Valença.
E olha que não me refiro a uma forma politicamente correta de dar voz aos 'marginalizados' do 'Norte' (que nem é o nome correto da Região, mas parece que a burra convenção de colocar todos numa só saco amorfo virou praga). Não, não é isso. A questão é jornalística mesmo, camaradas.
Afinal, não é mais do que legítimo conferir o que leva milhões de almas a "sentir a embriaguez do frevo" nas ruas, sem pagar um tostão e não passar pela situação humilhante de se espremer - dentro e fora - de cordões de isolamento?
Querem fatos? Pois os terão:
- No Carnaval de Pernambuco, são 10 as cidades-pólo oficiais de folia (em todo o Estado, na Zona da Mata, Agreste e Sertão)
- Só no Recife, o folião dispõe de nove pólos centrais de festa, distribuídos entre todos os gostos e ritmos. A saber: Recife Multicultural (no Marco Zero da cidade), das Fantasias & Infantil (as famílias e crianças vão mesmo), Mangue (herança do movimento mangue-beat), Todos os Frevos (não precisa nem dizer), Agremiações (mais de 200 agremiações, entre bois, ursos, troças, clubes de frevo e bonecos, blocos de pau e corda, tribos de índios e escolas de samba), Todos os Ritmos, Afro, Tradições e ainda oito células descentralizadas em bairros e comunidades da capital.
- Em Olinda, ah... Que dizer de Olinda? Deixo por conta de um blog criado por um grupo de alunas minhas, nesta postagem divertidíssima, explicar um pouco o que se encontra por lá.
Papangus - Caretas - Bonecos Gigantes - Caboclinhos - Maracatus e mais Blocos, troças, clubes, carros alegóricos, ursos, bois, tribos, escolas de samba e Frevo, meu povo. Muito frevo.
Pra terminar, um aparte pessoal. Em Vitória de Santo Antão, a 50 quilômetros do Recife, mesmo ante tanta descaracterização e algumas insistências com trios, o Carnaval ainda é magistral. Na rua, na fervura do asfalto, atrás das orquestras, o frevo reina. Ainda bem.
(O título lá e cima se refere a um frevo-canção de Capiba, compositor pernambucano que já se foi para mundos outros. Para ouvir, fazer o passo e pedir bis). Ei-lo:
É frevo, meu bem
(Continental, 1941)
Pernambuco tem uma dança,
Que nenhuma terra tem
Quando a gente entra na dança
Não se lembra de ninguém.
É o maracatu?
Não, mas podia ser.
É o bumba-meu-boi?
Não, mas podia ser.
É dança de roda?
Não, mas podia ser.
Não será o baião?
Quero ver dizer.
É uma dança,
Que vai e que vem.
Que mexe com a gente.
É frevo meu bem!
É dança de roda,
Não, mas podia ser.