quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Os porquês



Respondendo a alguns questionamentos, em especial ao comentário de Eduarda, faço o resgate de algumas hipóteses com as quais trabalhei nas minhas reflexões no mestrado sobre as 'causas' para o uso excessivo de material oficial nas redações.

De posse dessa constatação – que nasceu de uma inquietação e continua a me assombrar -, tateei pelas primeiras e mais óbvias hipóteses para isso estar acontecendo:

1. A própria prática profissional e a dinâmica das redações levam os repórteres à produção de um número exagerado de matérias diárias, resultando na falta de tempo de apuração. Assim, o release acaba sendo utilizado para que o profissional consiga dar conta de tudo;

2. Na busca desenfreada e inconseqüente pelo furo, a ordem é sair primeiro com a notícia. A velocidade acaba determinando as condições de trabalho. A assessoria envia uma matéria para o repórter, que, por sua vez, não tem tempo hábil para apurá-la. Mas, já que o mote é “dormir com matéria é acordar com furo”, a notícia acaba sendo publicada sem a devida apuração.

Ao longo do caminho, essas hipóteses primárias deram origem a outra, que, pela maior complexidade e subjetividade, foi descartada do foco da pesquisa de mestrado e, agora, é o coração da minha tese:

3. Há uma tendência cada vez menor nas redações para o conflito. Não no sentido de um jornalismo raivoso e excessivamente combativo, mas falta a alguns jornalistas a compleição pelo questionamento, pela investigação e pela dúvida.

Com raras exceções, o que se ouve é o que se publica. Parece existir um receio de bater de frente contra as fontes. E é nesse jornalismo burocrático que as assessorias encontram uma preciosa brecha para emplacar suas sugestões e até textos prontos.

Essa burocratização faz com que se perca de foco o verdadeiro ‘cliente’ dos jornalistas: o leitor/público/audiência.

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