segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

para os momentos febris


Porque já se disse que escrever se dá num processo insano, febril, resolvi separar um pouco os escritos acadêmicos dos mais particulares, que agora terão como abrigo o sítio Febre Terçã. Assim, continuo a postar sobre minha tese doutoral em andamento aqui no Jornalismo Cordial, e deixo ao novo espaço a ingrata incumbência de guardar meus escritos menos formais e sem tanto compromisso. A porta está aberta.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

A previsibilidade imprescindível

Me responde, por favor
Pra que que tudo começou
Quando tudo acaba
(Almanaque/Chico Buarque)


O que abre e o que fecha, o movimento do comércio, as missas e cantatas natalinas, o vazio das ruas na hora da ceia, o balanço das estradas e delegacias, a praia lotada no dia seguinte. A cobertura jornalística no Natal é isso aí. A gente reclama da mesmice, mas, como bem lembrou minha amiga Diana, "é feito Carnaval, tem todo ano, mas a gente nunca rejeita".

Uma repórter veterana sempre chegava à redação, em dias de festejo, resmungando que a apuração nessas datas era tão repetitiva, que se não saíssemos do jornal e só mudássemos as datas dos textos dos anos anteriores, não faria lá muita diferença. Seu bordão era "isso tudo é uma leseira".
Ela tinha sua parcela de razão. Tem um quê de melancólico, ritualístico, quase-previsível. Mas a gente não passa sem ele. Jingle Bells!


domingo, 21 de dezembro de 2008

Uma primavera

My candle burns at both ends
It will not last the night
But ah, my friends
And oh, my foes
It gives a lovely light...!
(Edna St. Vincent Millay)

Este blog completa 365 dias no ar, discutindo (ao menos, tentando) uma tese doutoral em andamento. Meus percalços, acertos, erros, caminhos e descaminhos estão sendo trilhados tendo este espaço como suporte, e os comentários de vocês como co-construtores desta pesquisa.

Em 2009, entro no segundo ano do doutorado, iniciando a pesquisa de campo, uma observação participante da rotina de apuração de dois jornais impressos.

Continuo com o mesmo gás. A paixão pelo 'periodismo', apesar de embaçar um pouco a vista (aliás, como qualquer paixão que se preze), é um combustível e tanto para continuar.

Obrigada pela participação de todos. Usem e abusem deste espaço, sempre. E que venha 2009.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Average Age

Monge copista labutando em plena 'Average' Age



Ontem, um professor me mostrava, entre desolado e estupefato, um trabalho de conclusão de curso de graduação que poderia figurar em qualquer lista de "mil exemplos de como não fazer um projeto acadêmico", com grandes chances de levar o primeiro lugar.

As pérolas eram muitas, com destaque para uma desavergonhada e matreira tentativa de não dizer nada de forma bem bonita e empolada, com requintes de malícia ao citar, logo no início, um escritor germânico dos mais densos e fundadores. Esperto, o cidadão.

Mas a cereja do bolo, a que me fez estarrecer diante da sem-vergonhice, estava, pasmem, escondidinha no resumo em inglês da 'monografia'. Uma das palavras-chave do abstract era Average Age. Fiquei sem entender o que a média de idade tinha a ver com o trabalho, que nada versava sobre estatística, faixa etária ou congêneres.

A dúvida se dissipou num segundo. O filiesteu se referia mesmo era ao período histórico da Idade Média, inadvertidamente traduzido como Average Age pelo Google ou outra ferramenta semelhante. Correção: a tradução rasteira não é falha do engenho de buscas, que na prática traduziu corretamente, mas da falta de senso e responsabilidade de quem delegou 100% à Web um trabalho que era pessoal e intransferível.

E caiu a máscara do futuro bacharel, gongado logo pelo utilíssimo Google, o melhor amigo dos estudantes, em sua maquiavélica tentativa de levantar vantagem em cima dos trouxas.

A Academia, esse palco tragicômico, tem dessas idiossincrasias.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Eu vou


Da Redação do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo

Com o objetivo de contribuir com as discussões acerca do ensino e da prática do jornalismo, bem como de fortalecer a campanha em defesa do diploma, será realizado no Recife, no próximo dia 12 de dezembro, o ENCONTRO NORDESTINO DE PROFESSORES DE JORNALISMO.
Será uma jornada cuja meta é uma maior aproximação entre instituições, profissionais e estudantes, buscando novos espaços de articulação e, assim, a troca de experiências, o aprofundamento dos debates e o planejamento de possíveis ações conjuntas.

A “abertura informal” do encontro será na véspera (11 de dezembro, às 20 horas, na Torre Malakoff – Recife Antigo), durante a cerimônia festiva de entrega do 15º Prêmio Cristina Tavares de Jornalismo, organizado pelo Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco (SinjoPE). A reunião do dia seguinte está programada para o auditório da Aliança Francesa, com a realização de uma mesa-redonda no período da manhã e de uma plenária, aberta aos relatos de experiência, no período da tarde. A jornalista e doutoranda em Comunicação Adriana Santana, do GJC, fará uma apresentação sobre a atuação do grupo na seção de relatos.

Está previsto, para o encerramento, um ato público em defesa do diploma, marcando o Dia Nordestino de Mobilização – e mais uma atividade de divulgação do livro organizado pela Fenaj (“Formação superior em jornalismo: uma exigência que interessa à sociedade”). Além do esforço do FNPJ e da Fenaj, com suporte local do SinjoPE, os sindicatos dos jornalistas de Alagoas e do Ceará já estão empenhados em garantir uma significativa representação dos respectivos estados, envolvendo ainda as escolas de comunicação.

As inscrições, gratuitas, podem ser realizadas pela Internet em formulário disponível no site da Universidade Católica de Pernambuco (http://www.unicap.br/). Os participantes terão direito a certificado. Uma Agência de Viagens está encarregada de apresentar opções de hospedagem em condições especiais para os inscritos – além de alternativas de passeios, também com tarifas diferenciadas, para os que permanecerem no Recife durante o final de semana (informações: Stylustur, com Nélida Costa ou 81-3269.6859).

PROGRAMAÇÃO

8h30 Credenciamento

9h Conferência de Abertura – Fazer Jornalismo: formação, prática e perspectivas. Alfredo Vizeu (PE), conferencista. José Carlos Torves (RS), debatedor. Ricardo Mello (PE), coordenador – SinjoPE e FNPJ

10h30 Intervalo

10h45 Mesa-Redonda – O que é ser Jornalista. Suzana Blass (RJ). Alexandre Henrique Lino (AL). Cristiane Bonfim (CE). Rafael Marroquim (PE). Aline Grego (PE), coordenadora – Unicap

12h15 Intervalo

14h Relatos de Experiência

16h Intervalo

16h15 Plenária Final – Diploma e Currículo: dois desafios em pauta

18h Encerramento

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Diga 33!

Uma mandala de Jung como presente


Porque hoje no céu Vênus entrou em Aquário - e eu não faço idéia do que isso signifique -, e porque não sou de guardar segredos (vide a profissão que abracei), brado logo aos quatro ventos que chegou a minha vez de dizer 33. E, reparem só a audácia, ainda me sinto com 16. Não sei se isso é bom ou ruim, mas feliz eu sei que estou. Se não for muita infâmia uma auto-indulgência, permitam-me que solte um "meus parabéns a mim"!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A Santa do Oiteiro


Chamem-me antiquadamente crédula, espiritualmente piegas, mezzo espírita/mezzo católica, ecumênica ou simplesmente simpatizante das coisas imateriais e não comprováveis. Podem me enquadrar em qualquer dessas classificações, que nenhum mal estarão me fazendo. Na verdade, confesso de peito aberto que me amarro na Santa do Oiteiro de que falo no título deste post. "Cêça", no linguajar doce dos devotos recifenses, oficialmente conhecida por Nossa Senhora da Conceição, cujo dia de hoje, 08 de dezembro, é dedicado em sua homenagem no país inteiro.

A imagem de Ceça, aqui no Recife, fica localizada no morro homônimo, próximo da minha casa, zona norte. Tenho a sorte de (quase) espreitá-la todos os dias, da área de serviço do meu apartamento. A imagem tem quase seis metros, mas a distância e os prédios acabam impedindo minha visão total. A gente sempre trava umas conversas interessantes - com muitos pedidos, igual número de agradecimentos e troca de olhares (tudo bem, sou em quem olho, ela só aceita o olhar em sua direção).


Há 33 anos, minha mãe, grávida de 9 meses, subiu o morro (numa maldade bem intencionada do meu pai) para agradecer pela minha chegada, que viria menos de um dia depois. Há 7 anos, eu me casava no mesmo dia, pois não me imaginaria participando de qualquer ritual de passagem que fosse caso não estivesse sob a sua bênção.


Não tenho vergonha de dizer essas coisas, mesmo num espaço acadêmico e correndo o risco de ser ridicularizada pelos meus pares. Cresci vendo os romeiros de azul e branco, decorei e cantei à exaustão a belíssima versão de uma agência de publicidade para o hino da santa (incessantemente veiculada na programação televisiva dos anos 80, em Pernambuco), agarrei-me a ela nos momentos mais punk, bem como nos de maior redenção da minha vida.


Iria passar por uma cirurgia definitiva? Lá estava ela em meus pensamentos. Os médicos vaticinavam que eu nunca seria mãe? Meu pensamento era nela. Varava a madrugada sofrendo as dores do parto? Dona Ceça estava lá, olhando para mim do seu morro. Iria passar por um, por dois partos? Em ambas as vezes ela me acompanhou, através de um papelzinho que foi devidamente amassado a cada aparição violenta das contrações. Eu e minhas meninas levamos a marca - Maria - no nome. É lógico, e podem rir à vontade, mas foi uma forma de prestar nossa admiração e agradecimento.


Até fiz um paralelo com o jornalismo para 'justificar' meu post-reverência. Numa sacada de mestre, instalaram uma câmera na parte superior da imagem, aqui no Morro da Conceição, para transmissão em tempo real do "olhar da santa". Até poucos minutos, estava no ar. Agora, não mais. O link deve ter caído. Uma pena. Daria um belo comentário sobre o caráter de ubiqüidade que o jornalismo insiste em passar ao mundo. Mas que não se iguala, perdoem-me os céticos colegas, à presença natural, assustadoramente forte e igualmente singela, que a santa do oiteiro tem sobre mim e todos os seus milhares de almas vestidas de azul e branco, hoje e sempre.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

um zeitgeist só meu


talvez seja o clima de pseudo-férias e os zilhões de artigos a terminar. pode ser a proximidade das (por vezes) melancólicas festas de fim-de-ano. quem sabe o propalado inferno astral pré-aniversário? ou mesmo uma leve predisposição a dar importância exagerada às coisas comezinhas. não sei. mas o fato é que tenho estado muito impressionável. sim, assumo, novamente não estou falando - diretamente - da minha pesquisa. digo diretamente porque, no fim das contas, vocês vão ver, a tese é base para este post.

há pouco, ante a minha expressão preocupada e enfezada (procurava um documento importante pela casa, sem sucesso, e pensava nos trechos da pesquisa que preciso escrever para ontem), escutei da minha caçula: "mamãe, você pecisa consiguir". curioso como a danadinha captou bem o que se passava no momento e enfatizou o pecisa como quem ordena, sem chance de contra-argumento.

é verdade, eu preciso conseguir, filha. e vou conseguir. esta tese vai nascer. pode até ser a fórceps, mas que um dia nasce, ah, isso nasce. palavra de mãe. meio desorientada, excessivamente preocupada e com mentalidade quase adolescente, mas não menos mãe.

(este post vai em homenagem à bela Júlia, que veio ao mundo hoje, em pleno sol a pino, prenúncio de mulher guerreira. vivi e pablito, pais da mais nova sagitariana do pedaço, segue toda a minha alegria para a família que acaba de surgir).