quarta-feira, 2 de abril de 2008

Sobre ecochatices, desassossegos e outras artes

F.Pessoa, o mais ilustre dos desassossegados



De início, uma declaração ao estilo Neruda: confesso que sou uma ecochata. Em segundo lugar, um esclarecimento: este post não tem ligação (direta) com a minha pesquisa de doutorado. A mudança de tema, só por hoje, pode ser fruto de uma gripe arrasadora, que está desarrumando minhas já caóticas reflexões sobre o periodismo e me deixando, também, impaciente com atos de incivilidade que venho encontrando em minhas andanças universitárias. Mais do que impaciência. É desassossego mesmo.

Desde que retornei à Universidade, tomei como 'hobby' observar a fauna humana acadêmica. Dez anos após a minha graduação, passei a analisar as diferenças e semelhanças entre a estudantada de hoje e a de uma década atrás. Para facilitar os que não são lá muito versados em contas: tenho 32 anos.

Para minha surpresa, a primeira constatação: com exceção de novos artefatos e penduricalhos - Ipods, laptops e congêneres -, nada de novo no front. Mesmo ar de enfado para com o mundo (o que não deixa de ter o seu charme e encanto), a mesma predisposição em questionar, não importando o quê, a vontade ensandecida de 'crescer' e fazer tudo diferente.

Num ponto, apenas, reside - no meu entender -, o grande 'cisma' entre minha geração do Centro de Artes e Comunicação (CAC) e a atual. Por incrível que pareça, parte da gurizada acha tediosa e aborrecida a bandeira do ecologicamente correto. Vide a quantidade colossal de plástico e outras porqueiras que a meninada espalha pelas lixeiras, pisos e outros espaços do centro, e o absurdo descaso com o gasto de água nos banheiros.

Hoje estive a um passo de surtar. Ao entrar no banheiro feminino do térreo do CAC, uma moçoila conversava, animadamente, enquanto a pia que ela havia acabado de usar para escovar os dentes transbordava. A torneira, naturalmente aberta, parecia implorar para ser fechada. Não esperei muito, talvez pela falta de paciência que só aumenta com o passar dos anos.

Pedi para que ela fechasse a bendita. "Ai, mas essa torneira é muito dura", foi o que escutei. Como não me falta força para girar uma reles torneirinha, fiz o 'serviço sujo' para a mocinha. Mal sabia eu o que me esperava...

Com o mais irritante escárnio, a bandida teve a ousadia de bradar: "Meu Deus, a água dos oceanos está secando, vamos salvar o mundo!". Sonoras gargalhadas das amiguinhas em BG. Apenas uma voz dissonante, baixinha e abafada, concordava com a minha atitude.

Confesso que saí do banheiro imediatamente. Em épocas outras, chamaria a colega para o 'caflito'. Mas o bom-senso, a gripe e uma (quase) maturidade advinda de duas gestações me acalmaram os ânimos.

Mas o desassossego, amigos, esse continua. Vai me acompanhar até apareça meu último fio de cabelo branco (só tenho um par até agora, juro, devidamente disfarçado). Tomara que, daqui para lá, ainda exista um pouco de água para lavar minha alma cansada de tanta ignorância.

2 comentários:

Marcelo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marcelo disse...

Sei lá. Acho que esse nível de imbecilidade também tinha em algum nível quando era a nossa vez. Sempre tem um abobado. O que mais me espanta é outra coisa. Eu tive o duvidoso privilégio de circular como aluno durante nove anos (contando as pausas). A mudança que mais me chamou a atenção foi em termos de mínima maturidade prática: gente que conhecia a cidade, que não temia andar de ônibus ou mesmo que houvesse trabalhado em alguma coisa que não fosse o estágio. Ou mesmo com hábito de ler jornal (embora fosse pouca gente que tivesse este). Quando eu entrei tinha mais disso. Quando saí, menos. Especialmente no tocante ao último hábito, tenho visto cada vez menos, e isso me deixa completamente confuso. É mais ou menos o mesmo que alguém fazer faculdade de marcenaria mas não conhecer madeira.