terça-feira, 14 de outubro de 2008

meu nariz empinado à ética


Narizinho - Ilustração de Manoel Victor Filho


A ética do jornalista é a mesma ética do carpinteiro, parafraseando a genial sacada de Cláudio Abramo. E embalada nesta cantiga eu escanteei um estudo mais aprofundado sobre a questão por muito tempo.

Mesmo concordando integralmente com essa visão, esqueci-me de abrir os olhos para o fato de que comungar da idéia de que só existe uma única instância de ética, válida para todas as profissões e papéis no mundo, não exclui a necessidade de se debruçar sobre o tema, especialmente quando a 'espinha dorsal' da minha pesquisa, o fio condutor do meu estudo está fincado na ética. Que poderia ser apenas a do carpinteiro, mas é também a do profissional da notícia.

Também tive muitas reservas a uma análise deontológica do jornalismo, não porque não a considerasse relevante, mas por uma preconceituosa resistência, medo mesmo, de resvalar para o moralismo, a normatização e controle.

Inicei na semana passada a leitura de Ética, de Adolfo Sáchez Vázquez, e quase desisto ainda no prólogo quando percebi que o viés adotado pelo autor seria o de analisar a ética através da moral. Conceito controverso, primo-irmão do puritanismo, vou cair fora, assim oebsei. Mas não dei bola ao meu preconceito e segui. Não me arrependo. Até porque a moral, nesta obra, é encarada como fato histórico, como fruto de um tempo e, dessa maneira, objeto da análise ética.

Ele assume uma postura que não passa por moralismos dogmatizadores, por códigos de normas, tampouco se refugia num "neutralismo ético". Acho que era isso que eu fazia. Me refugiava com o manto da neutralidade, com o receio de parecer demasiado 'catequizadora'. Num excerto, o autor afirma que "o valor da ética como teoria está naquilo que explica, e não no fato de prescrever ou recomendar com vistas à ação em situações concretas".

Gostei de ter continuado a leitura. Aparte um exagerado otimismo no homem (do qual comungo) e de uma anacrônica certeza de que o socialismo ainda irá ser o redentor de todas as almas (da qual gostaria de ainda acreditar), é um livro que me colocou para pensar mais e com mais dedicação à ética. Àquela do carpinteiro ou qualquer outra que valha.

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