terça-feira, 18 de novembro de 2008

O Quereres

Ah! Bruta flor do querer/Ah! Bruta flor, bruta flor


Já que fiz a lição de casa e postei anteriormente sobre um pedaço da minha pesquisa, sinto-me 'livre' para um comentário parcialmente desconectado ao tema do blog.

Quando decidi embarcar de vez na vida acadêmica, tive que, naturalmente, fazer escolhas. Larguei meus dois empregos estáveis (nunca pensei que seria tão difícil entregar a 'azulzinha' no departamento pessoal) e, junto a eles, um relativo conforto material e uma despreocupação com assuntos bancários.

Adeus carro, corridas de táxi, gastos 'supérfluos' (se alguém souber de um arreio para barrar a visão de algumas lojas, me avise) e bem-vinda estava eu ao mundo estudantil novamente, formado por uma bolsa de pesquisa e freelas ocasionais.

Demorei pelo menos uns seis meses para cair na real. Seria extremamente demagógico da minha parte afirmar que está sendo tudo lindo e romântico. Não há lá muita beleza em voltar a andar de ônibus depois de tanto tempo. Bem como não é com um sorriso no rosto que penso na mensalidade da escola das minhas filhas e contas em geral.

No entanto, dá para extrair uns momentos interessantes - na falta de melhor palavra - desse novo modus vivendi. Principalmente depois que perdi meu olhar de turista, para adquirir o olhar de uma 'local' que ainda se admira com as coisas 'pequenas' do cotidiano.

Na segunda-feira, voltando da Universidade para casa, no final da tarde, acompanhei uma cena que não me saiu da cabeça. No trajeto do ônibus, uma mulher com dois filhos pequenos sentou-se à minha frente. Bem arrumados e humorados, os meninos olhavam curiosos para tudo o que aparecesse pela janela.

Travaram uma 'conversa' com passageiros de um carro que parou ao lado do ônibus quando o sinal fechou. Quando o farol abriu, eles acenaram aos rapazes, que aceleraram e passaram à frente na avenida. O mais novo (uns quatro anos) virou-se para a mãe e disparou: "Mãe, eu quero andar de carro! Por que a gente não 'tá num?" A mãe olhou para ele, mas não respondeu. O mais velho (seis anos) tratou de satisfazer a curiosidade do irmão: "É porque a gente não pode, né, mãe?". A mulher desviou o olhar dos meninos e, nesse momento, cruzou o olhar com o meu. Covardamente, confesso, eu também desviei.

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