Ontem, um professor me mostrava, entre desolado e estupefato, um trabalho de conclusão de curso de graduação que poderia figurar em qualquer lista de "mil exemplos de como não fazer um projeto acadêmico", com grandes chances de levar o primeiro lugar.
As pérolas eram muitas, com destaque para uma desavergonhada e matreira tentativa de não dizer nada de forma bem bonita e empolada, com requintes de malícia ao citar, logo no início, um escritor germânico dos mais densos e fundadores. Esperto, o cidadão.
Mas a cereja do bolo, a que me fez estarrecer diante da sem-vergonhice, estava, pasmem, escondidinha no resumo em inglês da 'monografia'. Uma das palavras-chave do abstract era Average Age. Fiquei sem entender o que a média de idade tinha a ver com o trabalho, que nada versava sobre estatística, faixa etária ou congêneres.
A dúvida se dissipou num segundo. O filiesteu se referia mesmo era ao período histórico da Idade Média, inadvertidamente traduzido como Average Age pelo Google ou outra ferramenta semelhante. Correção: a tradução rasteira não é falha do engenho de buscas, que na prática traduziu corretamente, mas da falta de senso e responsabilidade de quem delegou 100% à Web um trabalho que era pessoal e intransferível.
E caiu a máscara do futuro bacharel, gongado logo pelo utilíssimo Google, o melhor amigo dos estudantes, em sua maquiavélica tentativa de levantar vantagem em cima dos trouxas.
A Academia, esse palco tragicômico, tem dessas idiossincrasias.
Um comentário:
Faz sentido. Vivemos na Era Mediana, com o surgimento em massa do lúmpen-intelectualato.
Triste, muito triste. Já pensei em ser professor, mas quando lembro de que existem essas coisas eu penso no quanto prezo meu fígado.
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