segunda-feira, 21 de abril de 2008
A estúpida 'obrigação' de ser voz dissonante
Não sou pelega. Não olho o mundo pelas lentes patronais. Politicamente, continuo insistindo a andar 'às esquerdas' do caminho. Procuro assumir uma postura bastante crítica em relação ao meu objeto de estudo. Por vezes, excessivamente até.
E sempre foi assim, desde que o meu mundo é mundo, muito antes do "tempo de eu menina" (como diria Manuel Bandeira), em que me vi entrevistando trabalhadores no alto de um prédio em construção e descobrindo que, sim, o ofício de repórter havia me fisgado para sempre.
Contudo, o fato de ser drummondianamente gauche na vida não deveria me obrigar a ver tudo com os olhos turvos do enfado. Do descontentamento. Da crítica raivosa e indiscriminada.
Digo isso porque percebo, vez por outra, olharares de desaprovação quando encontro exemplos de bom jornalismo. Quando enxergo além do horizonte determinista. Quando me recuso a apontar um plano maquiavélico da 'mídia e do sistema' como raiz de tudo o que sai, ou deixa de sair, na imprensa.
Naturalmente, na maior parte das vezes - até por necessidade metodológica - eu encontro as manchas, coloco o dedo na ferida, observo, reclamo e discuto os (des)caminhos da profissão. O que eu quero dizer é que, para ter um olhar crítico, não se precisa necessariamente perder o bom senso. Há que se reconhecer o erro. Mas também os acertos.
Sendo assim, gostaria de reivindicar o meu direito de não precisar me regozijar ante desvios jornalísticos. De encontrar e comentar belas peças noticiosas. De não defender que o jornalista é apenas um artífice do 'capital'. De não precisar ser maniqueísta, ora bolas!
De achar que é possível encontrar um entremeio, um lugar em que se dá para realizar, de vez em quando, uma reportagem legítima. Mesmo convivendo com as muitas limitações de uma empresa jornalística, com sanções, censura e constrangimentos. É difícil, muito difícil. Mas não impossível.
Ao menos, concedam-me o direito universal de acreditar!
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há escalas de cinza entre o preto e o branco,
maldita Geni
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9 comentários:
É o que eu digo: uma boa leitura crítica não prescinde de uma boa leitura. O problema é que o pessoal critica o que não lê. A cultura da orelhada que grassa pelo Brasil é causa, sintoma e agravante do analfabetismo funcional institucionalizado no país.
É isso mesmo, Marcelo. Aproveitando a sua 'presença' aqui, gostaria de pedir a você umas dicas sobre RAC. pode ser?
Legal mesmo que você, Adriana, esteja imbuída desse espírito que dizem acabar logo nos primeiros períodos de faculdade. Sò não entendi o que tem as fotos do cd de chico a ver com a história.
Marcelo, se possível, destrinche isso que você diz, parece interessante. "Uma boa leitura crítica não prescinde de uma boa crítica."
Eu prometo, eu cumpro.
http://www.ufpebodycount.blogspot.com/
É só um teste bem básico. Qualquer dúvida pode me perguntar.
Ah, ótimo texto!
Concordo plenamente. Compactuo dessa "linha ideológica" de que não é preciso sempre meter o pau em tudo, só para parecer ser crítico. Existem coisas boas, ruins, mais ou menos ruins, mais ou menos boas, boas e ruins ao mesmo tempo (etc.) e desse jeito é feito o mundo.
O maniqueísmo caiu junto com o muro de Berlim e eu, por mim, quero mais é que se derrubem todos os muros. Desde o que separa a Literatura do Jornalismo ao que separa o olhar crítico em relação à profissão da possibilidade de identificar e aplaudir os pontos positivos desta.
Só tem uma coisa que me intriga: os jornalistas são sempre muito duros com a própria profissão. Posso estar enganada, mas não vejo um médico, um engenheiro, um advodago, 'maltratar' tanto a própria classe. Cansei de assistir à palestras na Faculdade nas quais os jornalistas dizem que a profissão é suicídio, que é melhor parar enquanto é tempo, que se ganha pouco e se trabalha muito, que a mídia é muito má, enfim. Seria algo como 'a televisão é o ópio do povo'. Quando questionados porque, então, eles insistem em exercer essa profissão tão ingrata, são unânimes: paixão. Sinceramente? Eu não quero exercer uma profissão só por paixão. Não. Quero exercer uma profissão porque além de ser apaixonada por ela, tenho orgulho dela, porque graças a ela mudanças acontecem, porque com ela posso me manter bem, e por aí vai. Quero exercer a profissão de jornalista, especialmente, porque tenho exemplos como a Revista Realidade, obras como 'Meninas da Noite', repórteres como Tom Wolfe e ícones como GGM. E também quero ouvir sobre esses exemplos nas palestras, quero ouvir sobre a possibilidade de um jornalismo não-cordial e o quanto essa não-cordialidade, apesar de cada vez menos comum, pode, por si só, justificar o ofício de jornalista. E não acho que isso seja utopia. 'Hiroshima', por exemplo, é uma obra real, sobre uma história real, que emociona até hoje quem a lê e serve para mostrar o que não deve ser feito. Também são reais as reportagens, que mais pareciam denúncias, de Carlos Azevedo e são reais os 'jornalistas-ativistas' do PeBodyCount.
p.s.: adorei isso de 'Jornalismo-Geni'.
gabriela, uma explicação sobre a foto de chico: quis fazer menção à música "Geni e o Zepelin" (vc encontra a letra neste link: http://letras.terra.com.br/chico-buarque/77259/). na canção, a Geni é alvo da ira dos falsos moralistas do lugarejo onde mora. O bordão é "joga pedra na Geni, ela é feita pra apanhar, ela é boa de cuspir". A minha idéia foi fazer uma analogia com o jornalismo, sempre alvo de críticas, pertinentes ou não. Melhorou com a explicação? :)
gustavo, muito massa! terça-feira mostrarei a idéia a turma.
eduarda, de uma só tacada, vc definiu o que sinto a respeito da profissão e de como nos portamos diante dela. minha única tentativa de explicação para esse ranço tão comum a nosotros acaba não explicando nada, mas é o que acho mesmo: essas 'autopedradas' no jornalismo fazem parte da mística em torno dele. algo como um código oculto. que leva a maioria dos jornalistas a atirarem pedras na geni periodística. agora pergunte a qualquer um deles se quer deixar a atividade. vai ser difícil de achar.
Melhorou sim!!!
Obrigada.
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