sexta-feira, 4 de abril de 2008

De jornalistas e marceneiros


Um colega de doutorado comentava outro dia: o espaço da apuração criteriosa está tão escasso n'alguns jornais, que vez por outra somos surpreendidos com veículos que resolvem alardear sua característica de 'investigativo', como se todo jornalismo não o devesse assim ser. Parafraseando Marcelo Soares, do E Você com Isso?, é como se um marceneiro resolvesse fazer um anúncio informando que entende de madeira.

Exemplo citado pelo amigo doutorando para ilustrar o comentário foi o Diário do Nordeste, que conta com uma Editoria de Reportagem. O que dizer, então, dos outros cadernos? A reportagem está restrita apenas a esse setor?

Como não conheço bem a imprensa do belo Ceará (com exceção da seção Ombudsman d'O Povo, a qual sempre acompanho), convido os colegas cearenses ou conhecedores do mercado de lá para me esclarecerem essa questão.

6 comentários:

Ana Aragão disse...

Oi, Adri, realmente surpreendente essa nova editoria de o Diário do Nordeste... mas como sempre ouvi boas referências sobre o jornalismo cearense, certamente há de haver uma boa explicação para isso! Agora, uma provocação: descontado o horror do caso, como você está vendo a cobertura da morte daquela menina em SP? Bjs

Anônimo disse...

Aragão, confesso que estou acompanhando pouco o caso, por razões óbvias para quem tem filhos, como nós duas. Nem sei como conseguia fazer polícia antigamente. Não teria mais traquejo pra coisa, certamente. Para não dizer que estou de todo desinformada, assisti à matéria de Caco Barcellos sobre o caso, no Fantástico de ontem, na qual ele tentava traçar um perfil do pai e um pouco do da madrasta. Achei interessante, muitíssimo bem realizada, como sempre. É lógico que, nesses casos, o risco das precipitações e pré-julgamentos é grande, e muitas das pautas tendem a ser, temerariamente, conclusivas. Você tem acompanhado? O que acha?

Ana Aragão disse...

Adri, neste caso me chama muito atenção o tom que tem sido dado. Há um certo cuidado de não repetir o erro da Escola Base. Eu havia percebido isso e depois ouvi o Alexandre Garcia e Boechat, cada um em seu telejornal, alertar para a presunção de inocência que temos que ter e tal... Garcia inclusive alertou para o risco de reperir o mesmo erro. Por outro lado, ficam ainda mais evidentes o cuidado, o zelo, a preocupação com o inocente de classe média... o "preto, pobre e favelado" teria esse respeito todo? Bjs

Anônimo disse...

Pois é, o eterno 'dois pesos e duas medidas' do qual o nosso discurso jornalístico sempre faz uso. Na balança das classes sociais, é nítido como a preocupação e o cuidado são bem mais utilizados quando se trata de retratar o lado 'mais forte' da corda. Um cuidado que deveria haver sempre, né? Quer como seu Zé da Venda, quer com o empresário da Zona Sul.

criscalina disse...

Adriana,
Eu sou cearense.
O que acontece é que os dois principais jornais do Ceará, o Diário do Nordeste e O POVO, mantêm editorias de reportagens especiais. No caso do Diário, eles a chamam apenas de Editoria de Reportagem. O POVO a chama de Editoria de Reportagem Especial. São editorias que "desenterram" aquelas histórias esquecidas, fazem série de reportagens, etc, não se restringindo aos fatos noticiosos e quentes do cotidiano. Acho que é isso. Há, de fato, uma confusão de nomeclatura, mas fazer o quê? No entanto, vale se perguntar se essa confusão de nomeclatura causa um certo desleixo na cabeça dos repórteres que não fazem parte dessas editorias especiais (os repórteres especiais passam semanas apurando e escrevendo)...
Abraço,

Adriana Santana disse...

criscalina, muitíssimo obrigada pelo seu esclarecimento. um abraço.